A representação dos povos indígenas na mídia brasileira ainda caminha lentamente rumo à pluralidade e à justiça social. A forma como a imprensa retrata esses povos, segundo análise da jornalista Abigail Sunamita, ainda guarda fortes semelhanças com os retratos dos livros didáticos de história: os indígenas aparecem como figuras passadas, distantes da vida cotidiana e, sobretudo, sem voz própria.
Essa constatação foi aprofundada em uma entrevista com Liliane, jovem indígena da etnia Puyanawa, que compartilhou sua trajetória e suas percepções sobre a cobertura jornalística.
Aos 27 anos, Liliane vive em Rio Branco, capital do Acre, mas mantém laços estreitos com a aldeia onde nasceu, localizada no município de Mâncio Lima. Sua história é marcada por deslocamentos constantes entre a cidade e o território tradicional, um reflexo do desejo de seus pais por melhores condições de vida, sem nunca romper os vínculos com a cultura e identidade indígena.
“Então, quando eu estudei em Rio Branco, que eu voltei para a aldeia, que eu tive que estudar lá, eu estranhei porque era diferente, o ensino é diferente. E quando eu voltava para Rio Branco, eu tinha que me readaptar aqui no ensino. Então, eu tinha que transitar entre o ensino escolar indígena e o ensino escolar regular”, disse Liliane.
Apesar dos desafios, Liliane se formou e tornou-se inspiração para os irmãos e para outros jovens da comunidade.
“Inspira outros jovens também. De saber que a aldeia é nosso lugar, mas a gente também tem que ir para outros locais quando a gente quer voar”, afirma com orgulho.
Contudo, a presença na cidade também revelou as barreiras do preconceito. Liliane relata situações em que sua identidade indígena foi questionada com base em estereótipos.
“De as pessoas quererem dizer como que eu tinha que ser, como que eu devia estar, em que lugar eu tinha que estar. Então, assim, foi uma desconstrução que eu tive que fazer. Demonstrar, por exemplo, que os povos são diferentes”, destacou.