Alerta de escassez hídrica: desmatamento no Cerrado contribui para redução da vazão de rios
Ativistas, cientistas e ambientalistas alertam que o Cerrado, bioma conhecido como “berço das águas” e responsável por abrigar as nascentes de oito das 12 bacias hidrográficas do Brasil, está perdendo a capacidade de retenção hídrica em função do desmatamento impulsionado principalmente pelo agronegócio.
Pesquisas recentes sustentam a relação entre a perda de vegetação e a redução substancial na vazão dos rios, o que pode acarretar graves consequências nacionais, como inflação de alimentos e energia elétrica, além de racionamentos de água.
Um levantamento com dados de vazão de rios entre 1970 e 2021, realizado pela Ambiental Media, apontou que o Cerrado perdeu 27% da vazão mínima na média de suas seis principais bacias hidrográficas, o equivalente a 30 piscinas olímpicas de água a cada minuto.
O Rio São Francisco, que tem 90% das nascentes no bioma, registrou queda de 50% no período. O estudo “Cerrado: o Elo Sagrado das Águas do Brasil” atribui a maior parte dessa retração (56%) ao desmatamento e à mudança no uso do solo, enquanto 44% são relacionados às mudanças climáticas.
Especialistas destacam que a vegetação nativa do Cerrado, chamada de “floresta invertida” devido às suas raízes profundas, é essencial para o abastecimento dos aquíferos subterrâneos.
A situação é agravada pela legislação que permite o desmatamento de até 80% das áreas privadas no Cerrado, e pelas projeções do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), que estimam um aumento de 15% na área plantada para grãos até 2033/34.
A Agência Nacional de Águas (ANA) reconhece o risco de o Brasil perder até 40% da água em regiões do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e parte do Sudeste até 2040. O governo federal, por meio do Ministério do Meio Ambiente (MMA), reconhece que mesmo o desmatamento legal pode colocar em risco a segurança hídrica do país.
O setor do agronegócio, por sua vez, por meio da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) e da Aprosoja, contestou o estudo que aponta a relação entre suas atividades e a redução da vazão, afirmando que o desmatamento deve seguir a lei.
Para combater a crise hídrica, o governo estuda regulamentar as Áreas Prioritárias para Conservação de Águas do Cerrado (APCACs) e trabalha na recuperação de um milhão de hectares de áreas de preservação em bacias hidrográficas até 2031, conforme meta do Plano de Adaptação Climática.