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Doenças históricas ainda circulam devido a desigualdade e falhas na vigilância

A peste bubônica, a cólera e a hanseníase, historicamente associadas a períodos como a Idade Média, ainda circulam globalmente, conforme demonstrado pela confirmação de um caso de peste bubônica nos Estados Unidos no final de agosto.

Essas doenças, muitas vezes negligenciadas, persistem devido a fatores como a baixa condição socioeconômica, a ausência de vacinas totalmente eficazes para erradicação e falhas na vigilância epidemiológica.

A infectologista Christiane Reis Kobal, do Einstein Hospital Israelita, e o epidemiologista Expedito José de Albuquerque Luna, da USP, indicam que a desigualdade social e as limitações no controle sanitário favorecem a continuidade da transmissão.

A dificuldade na erradicação de patógenos, que buscam evoluir para driblar as defesas humanas, é uma realidade, sendo a varíola a única infecção que a humanidade conseguiu impedir que ocorra na natureza desde 1980.

O controle de surtos e casos localizados das demais doenças depende do acesso a saneamento básico, água potável, antimicrobianos e vacinação.

A prevalência da peste bubônica caiu após o surgimento dos antibióticos e o incentivo à higiene, mas ela ainda é notificada. Entre 2019 e 2022, seis países reportaram 1.722 casos, com a República Democrática do Congo e Madagascar como principais regiões endêmicas.

O Brasil não registra casos desde 2005, embora regiões como o Semiárido Brasileiro e a Região Serrana do Rio de Janeiro sejam consideradas potenciais focos naturais pela OMS. O controle da doença, que envolvia coleta de roedores para rastreio, foi repassado ao SUS em nível municipal a partir de 2000.

A hanseníase, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, permanece endêmica no Brasil, que ocupa o segundo lugar no mundo em número de novos casos, atrás apenas da Índia. Em 2024, dos 172.671 novos casos notificados no mundo, 12,8% (22.129) ocorreram no país.

O diagnóstico tardio e a manifestação de sintomas distintos contribuem para a dificuldade de erradicação. Já a cólera, causada pelo Vibrio cholerae, circula globalmente e teve sua sétima pandemia iniciada em 1961. O Brasil não registra casos autóctones desde 2006.

A transmissão ocorre por contato fecal-oral ou ingestão de água e alimentos contaminados, sendo crises como desastres naturais um fator de risco.

A doença, que pode levar a complicações graves como desidratação e choque, tem vacinas orais disponíveis, mas com baixa cobertura e eficácia.