Conselheira revela trajetória de abandono e vulnerabilidade do jovem que morreu após invadir jaula de leoa
O depoimento de uma conselheira tutelar de João Pessoa, que acompanhou por anos a trajetória do jovem que morreu após invadir o recinto da leoa na Bica no último domingo, trouxe novos detalhes sobre a vida marcada por abandono, instabilidade emocional e vulnerabilidade extrema. O relato, que rapidamente viralizou nas redes sociais, revelou que por trás da tragédia havia uma história longa de sofrimento silencioso.
A conselheira contou que conheceu o menino quando ele tinha apenas 10 anos, no momento em que foi retirado da família e acolhido pela rede de proteção. Desde cedo, segundo ela, ele carregava traumas profundos e demonstrava comportamentos alternados entre alegria, carência e atitudes imprevisíveis. Mesmo ainda criança, ele protagonizava episódios de fuga e se colocava em situações de risco, sinalizando que precisava de acompanhamento constante.
Ela relatou que o sonho dele era reencontrar a mãe e reconstruir o vínculo familiar, apesar de saber que ela enfrentava problemas de saúde mental e não conseguia oferecer os cuidados necessários. Esse desejo o acompanhou por toda a adolescência, junto com fantasias confusas e perigosas, como viajar sozinho ou entrar em locais proibidos porque acreditava que “nada aconteceria com ele”.
Segundo a conselheira, ao longo dos anos, o jovem acumulou episódios de risco extremo. Já havia sido encontrado tentando acessar áreas restritas e realizando ações perigosas sem qualquer noção de ameaça. Essa combinação de instabilidade emocional, carência afetiva, falta de limites e um sentimento profundo de abandono moldou sua trajetória até a fase adulta.
Para ela, a morte do rapaz expõe uma realidade dolorosa. Ele não era apenas alguém que ultrapassou uma barreira ou cometeu um ato imprudente, mas um jovem que cresceu sem estrutura emocional, sem referência familiar estável e sem o tratamento psicológico adequado. A conselheira afirmou que tentou ajudá-lo diversas vezes, mas reconhece que sua história era marcada por desafios maiores do que qualquer intervenção conseguia alcançar.
O caso segue sob investigação pelas autoridades, enquanto o relato reacende a discussão sobre a necessidade de políticas públicas de proteção e saúde mental para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.