O exemplo de impunidade que se tornou o Acre não condiz com o que a Justiça fez em outros estados com os casos de corrupção na gestão pública. Enquanto o Estado do Rio de Janeiro afastou seis governadores por corrupção, no Acre, apesar de a ministra Nancy Andrighi, do STJ, detalhar em todas as suas decisões haver indícios de uma suposta atuação do governador Gladson Cameli, como líder de uma organização criminosa instalada no executivo estadual, até o momento nenhuma decisão prejudicou os acusados no escândalo da Operação Ptolomeu, que em alguns casos estariam dando as cartas mesmo sem vínculo oficial com pastas da gestão.
Apesar do indiciamento do governador do Acre e das medidas cautelares determinadas pelo Superior Tribunal de Justiça, o desdém com a justiça estaria movimentando os esquemas de corrupção na gestão estadual que ao invés de reduzir as ocorrências estariam sendo ampliadas e com a participação de novos atores que estariam atuando nos corredores das principais pastas do governo do Acre, como lobistas e intermediários de supostas negociações com o poder executivo estadual. Nos bastidores políticos, fervilha o burburinho de que a corrupção nunca esteve tão enraizada no estado como na atual administração do governador Gladson Cameli.
Nos bastidores, há ainda a especulação da existência de um escritório de luxo montado especialmente para um dos investigados e afastados da função pública, que possa continuar determinando e orientando sobre obras e licitações públicas no estado. Se há a participação do governador Gladson Cameli nestes casos, apenas uma investigação aprofundada pode revelar. Mas as tentativas para manter as fontes de renda dos investigados em cargos de confiança mediante nomeações em gabinete de deputados estaduais e federais do partido do governador, e de sua base aliada, revelam que estas precisam ser investigadas para que a justiça não seja driblada por manobras ilegais.
O governo do Acre precisa passar por uma devassa para que não se torne um exemplo de impunidade para o país nas investigações de corrupção e desvio de dinheiro público. A Polícia Federal precisa continuar investigando os contratos das principais pastas da gestão estadual. Nas maiores pastas onde circulam grandes quantias de recursos estaduais e federais podem revelar mais detalhes sobre a manutenção do suposto propinoduto e esquema de desvio de recursos que deveriam ser aplicados na reestruturação do estado, mas que de forma indiscriminada estariam sendo desviados para contas de pessoas que lucram com os casos de corrupção.
Por trás das cortinas, há quem diga que muitos estão sambando em cima das consequências que tardam, mas jamais falham.