
Banda escolar se torna terapia e inspiração para alunos de educação especial na Cidade do Povo
“Quando eu entrei na banda, foi uma indicação da coordenadora do AEE [Atendimento Educacional Especializado], que falou para o maestro ver se eu conseguia tocar. Ele me deu o instrumento, pediu para eu soprar e deu certo. Desde então, nunca mais larguei. É a única trompa da banda e eu gosto muito dela. A música mudou meu jeito de ser. Antes eu era calado; tinha vergonha de conversar, agora perdi o medo, interajo mais e estou bem melhor”, contou, emocionado, David Kauã Ramos, de 16 anos.Para David, a música representa uma forma de se conectar.
O estudante, diagnosticado com transtorno do espectro autista (TEA), cursa a 1ª série do ensino médio na Escola Lourival Pinho, em Rio Branco, mas ainda faz questão de permanecer na banda da Escola Cívico Militar Wilson Barbosa, na Cidade do Povo, onde estudou o fundamental. Para ele, a música virou uma forma de expressão e um caminho para se conectar com os outros.
A mãe de David, Jeniffer Ramos, descreve o impacto da transformação: “Quando meus filhos descobriram a música, tudo ‘virou’. O David foi liberado da terapia, porque a música passou a cumprir esse papel. Ele aprendeu a lidar com pessoas, com as emoções. A música se tornou a terapia dele. Hoje, tanto ele quanto o irmão mudaram completamente. Interagem, se apaixonaram pela banda e são outros meninos. Eu só tenho gratidão”.“São outros meninos”, diz Jeniffer sobre os filhos.
Esse sentimento de mudança também é percebido pela coordenadora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) da escola, Cátia Amorim, que viu de perto os avanços. “No início, alguns alunos tinham dificuldades sérias, desde comportamento agressivo até falta de interação social. A banda foi um divisor de águas. O David, por exemplo, não precisa mais de mediador. Isso é o que o ensino especial busca: autonomia. Aqui, a inclusão acontece de verdade”, afirma.
As histórias de superação se multiplicam. Adryan Lucas dos Santos, de 12 anos, diagnosticado com TEA, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e transtorno opositivo desafiador (TOD), diz que encontrou na música um refúgio. “Quando estou estressado ou triste, pego o instrumento e me sinto melhor. A música me ajudou muito, principalmente a controlar a raiva e a memorizar mais rápido”, diz.Banda da Escola Cívico Militar Wilson Barbosa é referência de inclusão.
Já José Guilherme Veras, 17 anos, reforça o papel da banda no seu desempenho escolar: “A música me fez querer estudar mais, melhorar minhas notas para continuar na banda. Além disso, é uma calmaria, um porto seguro. Quando toco, esqueço os problemas”.
Referência no processo de inclusão
Chamado por colegas de “fazedor de milagres”, Jeamerson Teles, maestro da banda, carrega mais do que a missão de ensinar partituras e notas musicais. O regente se tornou referência no processo de inclusão de alunos da educação especial. Desde 2022, conduz jovens com paciência e dedicação, mostrando que a música é capaz de ultrapassar barreiras.Maestro Jeamerson celebra a evolução dos alunos por meio da música: “Pra mim, não tem preço”.
“A cada ano, o crescimento deles é visível. Muitos chegam sem nunca ter tocado e aprendem do zero. Já se apresentam em eventos dentro e fora da capital. Temos até ex-alunos que seguiram carreira musical e integram orquestras fora do estado”, relata, com orgulho.
Jeamerson conta que o trabalho começa pela base teórica: pauta, pentagrama, escala. “Depois vem a prática no instrumento. No início pode ser difícil, mas de repente eles começam a tocar, a se desenvolver e a mudar. Não é só aprender música. Eles ganham autonomia, confiança, e isso se reflete também na sala de aula”, explica.Ex-alunos seguiram a carreira musical e integram orquestras em outros estados.
Da Cidade do Povo para o mundo, a banda escolar hoje é vitrine de talento, inclusão e esperança. Mas, para o maestro, a maior conquista não está nos aplausos do público: “O mais bonito é ver a mudança no olhar deles. Quando percebem que conseguem tocar, que fazem parte de algo importante, é aí que a música mostra sua verdadeira força. E isso, para mim, não tem preço”. Assessoria Secom.