
Entre a invisibilidade e a extrema pobreza: a realidade das mais de 11 milhões de mães solo no Brasil
Mais de 11 milhões de mulheres que chefiam seus lares sozinhas no Brasil enfrentam uma rotina de sobrecarga intensa e alta vulnerabilidade socioeconômica, expondo um abismo social. A mãe solo é a única responsável pela provisão e cuidado dos filhos, uma luta diária que contrasta com a representação cultural do tema.
Este cenário grave é agravado pela desigualdade social e pela falta de suporte estrutural, impactando diretamente a saúde e o futuro dessas famílias.
Os números mostram o tamanho do desafio. Dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV) indicam um aumento de 1,7 milhão no número de mães solo na última década, muitas vezes empurradas para a informalidade devido à dificuldade de conciliar maternidade e emprego formal. Não por acaso, o rendimento médio dessas mulheres em 2022 foi 39% menor do que o dos homens casados com filhos.
Na televisão, histórias como a da emblemática Lurdes (Regina Casé), de “Amor de Mãe”, que cria cinco filhos sozinha, representam a garra, mas a ficção tende a focar no amor incondicional, o que corre o risco de romantizar a exaustão que, na vida real, gera esgotamento mental.
A desigualdade se torna ainda mais cruel ao analisarmos o recorte racial e social. Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 72% das mães solo pretas ou pardas com filhos pequenos vivem em situação de pobreza, e 22% estão na extrema pobreza.
Além dos problemas financeiros e da dificuldade de acesso a itens básicos como moradia e saneamento, a sobrecarga é mental. A ausência do suporte paterno é um fator central: o Brasil registra 5,5 milhões de crianças sem o nome do pai na certidão de nascimento, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Diante da omissão, que é normalizada socialmente, e da cobrança para que a mulher “dê conta de tudo”, especialistas insistem na urgência de políticas públicas que ofereçam alívio real.
A ampliação de vagas em creches e escolas de tempo integral é citada como medida crucial para permitir que essas mulheres consigam, de fato, buscar o sustento e preservar a própria saúde.