A Universidade Amazónica de Pando em Puerto Evo Morales (UAP) está mergulhada em polêmicas e denúncias de abusos feitas pelos alunos da primeira turma de medicina. Em apenas um ano de atividades, o que deveria ser um marco de desenvolvimento educacional na região tornou-se um pesadelo para os estudantes, que enfrentam precariedade, negligência e até situações de risco à vida, relatam.
Promessas não cumpridas
Quando a UAP chegou à vila no final de 2023, prometeram estrutura de qualidade, laboratórios bem equipados e cadáveres para estudo em anatomia. Contudo, essas promessas não passaram de palavras vazias. Os laboratórios alagam frequentemente, e os alunos já tiveram que improvisar empilhando cadeiras para segurar o teto prestes a desabar. Os banheiros, por muito tempo, eram improvisados e inutilizáveis, e até hoje não há sequer um bebedouro com água potável disponível no campus, denunciam.
A segurança dos estudantes foi posta em risco em um episódio recente, quando um incêndio causado pela má instalação elétrica quase terminou em tragédia. “Durante o caos, os alunos foram obrigados a salvar equipamentos, como microscópios, enquanto a direção parecia indiferente à situação.” Pontuou um dos alunos.
O caminho para estudar: uma luta diária
Além das condições precárias na universidade, os estudantes enfrentam um percurso difícil até o campus. Durante as chuvas, o ramal que dá acesso à UAP se transforma em lamaçal, quase inacessível para veículos comuns. Os alunos dependem da boa vontade de colegas que possuem caminhonetes para chegar às aulas.
Além de todas as dificuldades, os estudantes enfrentam uma pressão financeira, também denunciam. A universidade exige, de acordo com denúncias, que os alunos invistam em materiais de laboratório, pinturas e até gastos elevados com feiras acadêmicas. “Isso não deveria ser nossa obrigação, mas somos forçados a gastar com tudo isso, sob a promessa de que ganharemos pontos extras”, explicam os alunos. No entanto, a indignação é maior porque esses pontos, prometidos como recompensa pelo esforço e investimento, frequentemente são cancelados pela universidade, deixando os estudantes frustrados e no prejuízo.
Acusações de abuso e pressão psicológica
Os alunos também denunciaram ao Alerta Cidade que ambiente acadêmico é marcado por constantes abusos e humilhações. Professores expulsam alunos da sala por respostas erradas ou até por bocejarem. Casos de crises de ansiedade e ataques de pânico em sala de aula são frequentes, mas a direção prefere fechar os olhos. Em um caso emblemático, uma aluna teve uma grave crise após ser advertida por um professor de anatomia, sob o olhar passivo da diretora, afirmam os estudantes.
A polêmica da quarta parcial
A crise na UAP ganhou mais um capítulo com o cancelamento da quarta parcial. A justificativa é que alguns alunos foram pegos colando, e, por isso, a universidade decidiu obrigar todos os estudantes a refazerem a prova. Muitos acreditam que essa decisão é injusta, já que a maioria realizou a avaliação de forma honesta e foi aprovada com mérito. “Estão nos punindo pela falta de preparo deles mesmos, que não conseguiram fiscalizar a prova adequadamente”, relatam os alunos, exaustos do que estão vivendo.
A medida, vista como retaliação, revoltou os estudantes, que passaram o ano de 2024 enfrentando um cenário de negligência e ainda assim se esforçando para alcançar o sucesso acadêmico. “Estamos sendo punidos pelos erros de uma minoria, enquanto a própria instituição não assume sua incapacidade de organização”, desabafam.
Um grito por justiça
“Não queremos que nenhum de nós tenha o mesmo fim trágico que o nosso colega Sebastião Peixoto”, afirmam os estudantes, em referência a um caso de desespero relacionado à pressão acadêmica. A UAP Puerto Evo, com apenas um ano de atividades, já coleciona denúncias de escândalos e um histórico preocupante de negligência e abusos.
O Alerta Cidade deixa este espaço em aberto para eventuais esclarecimentos por parte dos envolvidos.