O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega avaliou, em entrevista à CNN neste sábado (30), que a proposta de isenção no Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil deveria ter sido submetida a um debate mais amplo envolvendo governo, setor privado e especialistas. A medida, anunciada junto ao pacote fiscal do ministro Fernando Haddad, foi considerada por Nóbrega como um fator que comprometeu a credibilidade do conjunto de ações.
Segundo o ex-ministro, o destaque dado à mudança no IR obscureceu outras propostas relevantes do pacote, como a desvinculação do salário mínimo dos gastos previdenciários, defendida por Haddad e pela ministra Simone Tebet. Para ele, a concessão da isenção foi uma estratégia para garantir o apoio do presidente Lula. “A proposta de renúncia fiscal acabou prevalecendo, mas não é suficiente para resolver o problema fiscal do país”, afirmou.
A mudança no IR, que eleva o piso de isenção para R$ 5 mil, pode gerar uma perda de arrecadação estimada em R$ 45 bilhões. A medida, embora elogiada por muitos como um avanço na tributação mais justa das pessoas físicas, foi criticada por Maílson quanto ao momento de sua implementação. “Essa é uma medida necessária, alinhada com práticas internacionais em grupos como OCDE, G7 e G20, mas o momento não era esse”, explicou.
Maílson alertou que o “calcanhar de Aquiles” do pacote fiscal está na incapacidade das medidas anunciadas de estabilizar a relação dívida pública/PIB, um indicador fundamental para a credibilidade econômica do país. Ele reforçou que essa métrica é observada atentamente por investidores e agências de classificação de risco, que avaliam a solvência do setor público brasileiro.
O pacote, divulgado na última quarta-feira (27), continua gerando debate sobre sua eficácia e as possíveis consequências para a economia do país.