
Governo Trump planeja desativar programa global contra HIV, podendo gerar uma crise global, revela New York Times
O governo do presidente Donald Trump elabora um plano para encerrar gradualmente o Pepfar, o Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da Aids, segundo documentos obtidos pelo jornal The New York Times. A iniciativa, criada em 2003 durante o governo George W. Bush, é uma das maiores ações globais de combate ao HIV, responsável por fornecer medicamentos e serviços de prevenção em países de baixa renda.
De acordo com a reportagem, o Pepfar deixaria de atuar diretamente no fornecimento de tratamentos e passaria a operar por meio de parcerias bilaterais, com foco na detecção de surtos que possam representar ameaça aos Estados Unidos e na promoção de produtos e tecnologias americanas no exterior. O plano prevê uma redução orçamentária de 42%, cortando o atual financiamento de US$ 4,7 bilhões. O secretário de Estado, Marco Rubio, defende os cortes, alegando “fraude e desperdício” no programa.
Apesar disso, o Congresso americano, com apoio de democratas e parte dos republicanos, restituiu recentemente US$ 400 milhões ao Pepfar. Parlamentares de ambos os partidos consideram o programa uma ferramenta vital na diplomacia internacional e no combate a pandemias.
Segundo o NYT, a proposta do governo Trump deve ser apresentada aos países beneficiários em outubro e ao Congresso em dezembro. A transição, se aprovada, afetaria especialmente países da África e outras regiões com alta incidência de HIV. Botsuana, Namíbia, África do Sul e Vietnã enfrentariam o fim do apoio em apenas dois anos. Já países como Quênia, Zâmbia, Lesoto, Zimbábue e Angola teriam entre três e quatro anos para assumir o programa com recursos próprios.
O plano reconhece os riscos e os desafios logísticos e sanitários dessa mudança. “Nenhum programa de saúde global na história passou por uma transição dessa escala”, apontam os documentos, destacando que o HIV segue sendo uma doença sem cura ou vacina.
Apesar dos cortes, o governo americano sinaliza intenção de investir em novas tecnologias, como o medicamento lenacapavir, uma injeção preventiva que demonstrou 100% de eficácia em um ensaio clínico recente.
O Pepfar já salvou mais de 25 milhões de vidas, segundo dados das Nações Unidas, e sua possível desativação levanta preocupações entre especialistas em saúde pública e líderes internacionais.