O Sabor da Saudade: a curiosa tradição de comer mangas no Cemitério São João Batista em Rio Branco
No Cemitério São João Batista, em Rio Branco, as mangas maduras que caem dos pés espalhados entre os túmulos. E muitos visitantes não resistem param um instante, pegam uma fruta e saboreiam ali mesmo, como parte de uma tradição curiosa que atravessa gerações.
“Essas mangas do cemitério são diferentes”, garante Seu Raimundo, 68 anos, frequentador assíduo do São João Batista. “Parece que o sabor é mais forte, mais doce. Dizem que é porque as árvores crescem num lugar sagrado, onde as pessoas descansam em paz.”
A cena se repete todos os anos. Enquanto uns se emocionam com lembranças, outros aproveitam para colher as frutas que, segundo muitos, só ficam realmente boas nessa época no início de novembro, quando o calor amazônico amadurece as primeiras mangas da estação.
Os pés de manga, alguns antigos e frondosos, fazem sombra sobre os jazigos e corredores do cemitério. Funcionários contam que as árvores nasceram naturalmente.
“Tem gente que vem visitar os parentes e não sai sem provar uma manga. Já virou parte do ritual”, comenta a zeladora do cemitério.
Especialistas em botânica diriam que o sabor da fruta não tem nada de sobrenatural trata-se apenas do ponto ideal de maturação, aliado ao clima quente e úmido da região. Mas para quem saboreia, há algo a mais: uma mistura de nostalgia, fé e memória afetiva.
Assim, entre flores e frutas, o Cemitério São João Batista se transforma num espaço que vai além da dor da perda é também um lugar de histórias, tradições e sabores. As mangas que caem dos galhos carregam, junto com o perfume da estação, uma doce lembrança de que a vida e a natureza continuam, mesmo em meio ao silêncio das sepulturas.
Curiosidade final
Em várias partes do Brasil, é comum encontrar árvores frutíferas dentro dos cemitérios geralmente plantadas por antigos funcionários ou surgidas espontaneamente. Em Rio Branco, no entanto, a manga do São João Batista ganhou status de símbolo popular, misturando folclore, memória e um toque irresistível de sabor acreano.