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ONG alerta para alta do trabalho infantil entre crianças de 5 a 9 anos

O aumento do trabalho infantil entre crianças de 5 a 9 anos, na passagem de 2023 para 2024, chamou a atenção da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, organização da sociedade civil voltada para o bem-estar na primeira infância.

Depois de ter caído 24% de 2022 para 2023, números divulgados na última sexta-feira (19) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relevaram que, no ano passado, o país registrou aumento de 22%, chegando a 122 mil crianças de 5 a 9 anos em situação de trabalho infantil.

Com base nos dados do IBGE, a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal constatou que, entre os mais novos, o percentual de crianças submetidas ao trabalho infantil foi o maior já registrado na série histórica, iniciada em 2016.

Em 2016, as 110 mil crianças de 5 a 9 anos nessa situação eram 5,24% da população dentro dessa faixa etária. Em 2022, eram 132 mil pessoas, que representavam 6,97% da faixa etária. O número caiu para 100 mil crianças (6,19%) em 2023, mas voltou a subir no ano passado: 122 mil ─ 7,39% das que tinham entre 5 e 9 anos.

A CEO (diretora-executiva) da Fundação, Mariana Luz, considera “inaceitável” que, em 2024, o Brasil registre a maior proporção já vista da série histórica de crianças de 5 a 9 anos em trabalho infantil.

“Quando crianças nessa faixa de 5 a 9 anos trabalham, estamos negando a elas o direito primordial de experimentar a infância: brincar, aprender, crescer em segurança. Estamos comprometendo seu futuro, reforçando desigualdades raciais, perpetuando um ciclo de exclusão que se inicia precocemente”, disse à Agência Brasil.

Ainda segundo ela, a inserção de famílias de baixa renda no trabalho doméstico ou informal “ajuda a explicar, em parte, esse salto entre crianças tão jovens”.

A educadora social e advogada Patrícia Félix, integrante do Conselho Tutelar no Rio de Janeiro, acrescenta que o trabalho infantil aumenta em períodos como as férias escolares, quando os pais não têm com quem deixar os filhos. Por isso, ela defende que hajam mais vagas em colégios de ensino integral.

“A gente vê que essas mães realmente precisam de um ponto de apoio”, disse em entrevista à TV Brasil.

5 a 17 anos

Em um universo mais amplo, a pesquisa do IBGE revelou que, em oito anos, o número de pessoas de 5 a 17 anos envolvidas com o trabalho infantil recuou 21,4%. Mas, de 2023 para 2024, o contingente cresceu 2%. 

Mariana Luz lembra que os dados recém divulgados revelam que o Brasil não alcançou ainda a meta 8.7 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata de “até 2025, acabar com o trabalho infantil em todas as suas formas”.

“Precisamos de políticas públicas reais, financiamento adequado, fiscalização rigorosa, intervenções direcionadas às populações mais afetadas. Especialmente crianças pretas e pardas, nas regiões mais vulneráveis”, declarou.

Mariana Luz nota que, enquanto crianças pretas e pardas são 66% da faixa etária de 5 a 9 anos, elas representam 67,8% das submetidas ao trabalho infantil, ou seja, proporcionalmente essas sofrem mais com a situação. “Isso revela, de forma cristalina, uma falha estrutural gravíssima do país: onde existe pobreza, invisibilidade social e racismo, as crianças negras são as que mais sofrem”, aponta.

Para a CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, “cada criança retirada de sua infância é uma falha coletiva”. Para ela, é preciso agir com urgência para garantir que nenhuma criança esteja trabalhando quando deveria estar brincar e estudar. “Porque criança não trabalha, criança vive a infância”, diz.