
Por que homens de beleza mediana discutem sobre a aparência das mulheres, como se fossem verdadeiros príncipes?
Íam Arábar
Em tempos de redes sociais e filtros, a aparência virou pauta cotidiana e, curiosamente, muitos homens de beleza considerada “mediana” parecem se sentir à vontade para opinar, criticar ou julgar a aparência das mulheres, como se fossem grandes especialistas ou verdadeiros príncipes. Mas o que está por trás desse comportamento?
Especialistas em psicologia social e comportamento humano apontam que o fenômeno está ligado a uma combinação de insegurança, necessidade de validação e influência cultural. Para muitos desses homens, falar sobre a aparência feminina é uma forma de afirmar poder ou status social, mesmo que não tenham atributos físicos que justifiquem a postura de superioridade.
Segundo pesquisadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, há um padrão recorrente de compensação psicológica: pessoas que se percebem como medianas ou insatisfeitas com a própria aparência tendem a desviar o foco para os outros, tentando se sentir mais seguras ou relevantes. “Criticar é uma forma de se colocar acima, mesmo que simbolicamente. É uma tentativa de recuperar autoestima”, explica a psicóloga social norte-americana Jessica Tracy.
Outro fator está na idealização dos padrões de beleza. Desde cedo, homens e mulheres são expostos a imagens e discursos que reforçam a ideia de que existe um “tipo ideal” de beleza feminina, geralmente inatingível. Mesmo quem não se encaixa nesses padrões acaba reproduzindo essas expectativas, tratando a aparência das mulheres como um “critério de valor”.
Há ainda o elemento da masculinidade performática. Em muitos círculos sociais, especialmente entre jovens, opinar sobre mulheres é visto como sinal de confiança e virilidade. “Falar sobre mulheres e demonstrar seletividade se tornou uma forma de performar masculinidade. Mesmo homens comuns sentem essa pressão de agir como se fossem desejados e dominantes”, analisa o sociólogo brasileiro Ricardo Oliveira.
Pesquisas publicadas pela Association for Psychological Science também mostram que alguns homens superestimam o próprio valor físico e social, acreditando que têm mais chances com mulheres consideradas “acima de sua liga”. Essa percepção inflada pode explicar por que muitos se comportam como “avaliadores” da beleza alheia — mesmo sem corresponder ao padrão que tentam impor.
Em última instância, o comportamento revela mais sobre quem julga do que sobre quem é julgado. A crítica constante à aparência feminina expõe fragilidades emocionais e culturais, refletindo uma sociedade que ainda valoriza mais a imagem do que o conteúdo.
E enquanto alguns homens se ocupam em classificar mulheres, o debate mais urgente continua sendo outro: por que a aparência ainda é usada como medida de valor nas relações humanas?