Menos de 24 horas após a inauguração do elevado da Avenida Dias Martins, em Rio Branco, falhas começaram a ser registradas, gerando questionamentos sobre a qualidade da obra. Para analisar a situação, a reportagem do Acre em Notícia consultou um renomado engenheiro civil do estado, que preferiu não revelar sua identidade. O especialista identificou erros técnicos na execução do projeto, indo além dos defeitos observados no asfalto.
Desníveis nas rampas
O principal problema apontado pelo engenheiro está na conexão entre a rampa de saída do elevado e a via principal. “Não é uma questão de inclinação, mas da falta de harmonia entre as rampas. Existe um desnível muito pronunciado na transição, o que provoca desconforto e pode causar danos aos veículos. Para corrigir isso, seria necessário aplicar uma curva vertical parabólica, que suavizaria a mudança de direção e eliminaria o impacto brusco, proporcionando uma transição mais confortável aos motoristas”, afirmou.
O especialista também ressaltou a ausência de um fator de curvatura K adequado, que é essencial para o dimensionamento correto das curvas verticais. “O fator K é responsável por calcular o comprimento da curva, garantindo uma transição suave e segura. Sem esse parâmetro, a mudança abrupta de inclinação acaba prejudicando tanto o conforto dos motoristas quanto a durabilidade dos veículos.”
Erros nos reparos
Outro ponto crítico levantado foi o material utilizado nos reparos emergenciais realizados após as primeiras reclamações. Segundo o engenheiro, foi aplicada uma camada de massa asfáltica de granulometria fina, mais apropriada para acabamento. “Esse tipo de material, quando usado em camadas mais grossas, tende a perder estabilidade com o tempo. O ideal seria usar materiais mais rígidos, como concreto ou macadame, para preencher as falhas antes de aplicar a camada final de asfalto.”
Ele também destacou o risco de comprometimento das juntas de dilatação do elevado. “Essas juntas são fundamentais para permitir que a estrutura se expanda e contraia devido à variação de temperatura. Se elas forem bloqueadas, a pressão gerada pelo movimento do metal pode causar sérios danos à estrutura.”
Normas técnicas desconsideradas
De acordo com o especialista, os problemas poderiam ter sido evitados se as normas técnicas de engenharia fossem seguidas à risca. A transição entre trechos retos no plano vertical exige cálculos detalhados que considerem:
• Fator de Curvatura K: define o comprimento necessário para uma curva vertical suave;
• PIV (Ponto de Interseção Vertical): local onde dois trechos retos se encontram;
• PCV (Ponto de Curva Vertical): início da curva vertical;
• PTV (Ponto de Tangência Vertical): final da curva vertical.
“O fator K é crucial porque determina a suavidade da curva de acordo com a velocidade permitida na via e o conforto dos motoristas. Ignorar esse elemento resulta nas mudanças abruptas de inclinação que estamos vendo no elevado”, explicou o especialista.
O caso tem gerado grande repercussão entre moradores e motoristas, que cobram explicações das autoridades responsáveis pela obra. Enquanto isso, técnicos e engenheiros analisam alternativas para corrigir as falhas estruturais.