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Rússia anuncia vacinas contra o câncer, mas especialistas pedem cautela

A Rússia iniciou uma série de anúncios que chamaram a atenção da comunidade médica internacional: vacinas contra diferentes tipos de câncer, baseadas em tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) e em vírus atenuados. O governo promete distribuição gratuita já a partir de 2025, mas até agora não apresentou resultados clínicos revisados por pares, o que gera desconfiança entre especialistas.

O Ministério da Saúde russo divulgou que cientistas do Centro Gamaleya o mesmo que desenvolveu a Sputnik V contra a Covid-19 haviam concluído a formulação de uma vacina experimental contra o câncer. O imunizante, segundo as autoridades, utiliza a mesma plataforma de mRNA aplicada durante a pandemia e teria como alvo tumores sólidos, com destaque para o câncer colorretal e o melanoma.

Outra iniciativa, chamada Enteromix, foi apresentada como uma vacina capaz de treinar o sistema imunológico para destruir células malignas, usando quatro vírus não patogênicos como base. O país também declarou ter finalizado o desenvolvimento de uma vacina específica contra o câncer colorretal.

Após meses de expectativa, em agosto de 2025, Moscou confirmou que os primeiros ensaios clínicos em humanos devem começar entre setembro e outubro deste ano. O estudo terá como foco pacientes com melanoma, e a formulação será personalizada: o perfil genético do tumor de cada paciente será sequenciado, e uma vacina sob medida será produzida com auxílio de inteligência artificial.

Segundo o governo russo, a aplicação será gratuita para todos os participantes e poderá, em um futuro próximo, ser estendida a diferentes tipos de câncer.

Apesar do tom triunfalista dos anúncios, cientistas ao redor do mundo têm se mostrado cautelosos. O principal motivo é a ausência de dados clínicos publicados em revistas científicas ou submetidos a avaliação independente.

“Sem resultados de ensaios clínicos revisados por pares, não há como saber se a vacina é realmente eficaz ou segura”, afirmou à imprensa europeia a oncologista britânica Karol Sikora, ex-diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Críticos também apontam que anúncios prematuros de avanços médicos podem ter caráter político, especialmente em um contexto em que a Rússia busca projetar poder científico no cenário internacional.

O desenvolvimento de vacinas terapêuticas contra o câncer é uma área em crescimento. Empresas como a Moderna e a BioNTech também estudam soluções semelhantes, com resultados preliminares considerados promissores, mas ainda distantes da aplicação em larga escala.

Se confirmados, os resultados russos poderiam representar um marco histórico no combate ao câncer. Por enquanto, a comunidade científica aguarda a publicação de evidências robustas que sustentem as declarações de Moscou.