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Seis de Agosto: uma história de amor entre um bairro e o rio

George Naylor

Lembrado como uma das principais datas do calendárioacreano, o dia 6 de agosto remonta à revolução liderada, em 1902, pelo gaúcho José Plácido de Castro, que, dois anos depois, foi legitimada pelo Tratado de Petrópolis.

O documento juntou definitivamente o Acre ao território nacional, dando fim ao confronto entre brasileiros e bolivianos. A mediação de paz foi integralmente conduzida pelo ministro Barão do Rio Branco e resultouna concessão, por parte da Bolívia, da região acreana.

A menção à data lembra também um grito de resistência e pioneirismo dos moradores que habitam um dos bairros mais antigos da capital acreana.

O 6 de Agosto se confunde com a história do Estado do Acre, e seus moradores celebram a data todos os anos.  

Mesmo com mais de cem anos de fundação, o bairro continua remetendo a tempos idos por meio da sua arquitetura, comércio rústico e famílias tradicionais.

Andando por suas ruas, ainda é possível encontrar a essência do povo acreano na miscigenação, no falar, no vestir e até mesmo no comportamento, ainda pacato.

As crianças continuam a brincar às margens do rio, os jovens colhem frutas, os homens pescam tomando cachaça e trabalhando pesado, as mulheres lavam roupas e a vida,mesmo humilde, segue um fluxo natural de desenvolvimento necessário para os tempos ditos modernos.

Um rio como cúmplice

Grande parte dos moradores cultivam uma relação direta com o Rio Acre. Seja no transporte, deslocando-se de um distrito ao outro a bordo de uma catraia, ou na utilização das suas águas para os afazeres domésticos e até mesmo por diversão, nas suas praias arenosas.

Essa relação vai de inverno a verão, acompanhando o ciclo do rio. O bairro sempre esteve cara a cara com as grandes águas banhando suas ruas, vielas e casas durante as alagações. Na estiagem, vivencia uma triste e nova dimensão da história.

O nível do Rio Acre atingiu, nesta primeira semana de Agosto, uma media muito baixa, o que preocupa não somente as autoridades, mas também as famílias que convivem lado a lado com essa fonte de vida.

“Estamos sofrendo e definhando junto com o nosso rio. Ele é a grande testemunha da nossa história. Com o passar do tempo, aprendemos a conviver com as alagações, isso já faz parte da nossa rotina, mas a seca consegue ser um fenômeno mais triste e preocupante”, comentou o morador Ezequiel Albuquerque.

Outro morador, o Tião Luiz, expressa a situação de modo enfático: “Precisamos cuidar do nosso maior bem natural. Não podemos deixar o nosso rio acabar e levar junto com ele toda a nossa história. Estamos promovendo uma verdadeira revolução em prol da vida do nosso maior caudal. Combater o desperdício e a poluição é o melhor caminho para no futuro comemorarmos o aniversário do nosso bairro apreciando volumosas águas”.

A comemoração prevista para este sábado, portanto, tem um significado que vai além do sentimento com a Revolução Acreana e o aniversário de fundação do bairro. O momento reflete também uma carga de responsabilidade social com o rio.

Texto George Naylor
Foto: Luciano Pontes