O publicitário Guto Araújo, 55 anos, disse que um dos principais riscos das eleições de 2024 é o uso indiscriminado de IA (Inteligência Artificial) para influenciar as campanhas nas redes sociais. Esse mecanismo, disse, poderá contaminar as campanhas se não tiver alguma intervenção até o pleito. Há o risco de as eleições serem, em suas palavras, “traumáticas”.
Guto atua com marketing político desde 1998. Já trabalhou em campanhas presidenciais no Brasil, El Salvador, Venezuela e República Dominicana, além de outras em governos estaduais e prefeituras para o PT (Partido dos Trabalhadores), PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), MDB (Movimento Democrático Brasileiro), DEM (Democratas) e PP (Partido Progressistas).
“Se os TREs [Tribunal Regional Eleitoral] e o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] já não conseguiam fazer uma auditoria [sem IA], vamos dizer online, 24 horas, todos os dias em todo o Brasil, agora vai ser mais difícil ainda”, disse Guto em entrevista ao Poder360.
Para ele, o volume de processos e reclamações a respeito da inteligência artificial agindo para a produção em massa de fake news deve ser muito maior que no passado.
Para ele, faltando 9 meses para as eleições, há um “imbróglio” instalado, já que não houve regulamentação nem um conjunto de políticas do TSE até o momento. Ele citou como exemplo a eleição argentina, que levou o liberal Javier Milei ao poder em 2023. Ele avalia que situações semelhantes podem ser experimentadas no Brasil de 2024.
A reta final da campanha presidencial argentina foi palco de uma enxurrada de materiais produzidos com IA pelos 2 candidatos: Sergio Massa e Javier Milei. O recurso foi usado sobretudo para as chamadas campanhas negativas, que visam a aumentar a rejeição dos postulantes a partir de críticas, nem todas elas verdadeiras, uns aos outros.
Houve registro de inteligência artificial ser empregada em vídeos e imagens que já existem. Um exemplo foi a inserção do rosto de Milei em uma cena do filme “Laranja Mecânica” dirigido por Stanley Kubrick e lançado em 1971. O libertário foi mostrado no corpo do personagem principal, o sociopata Alex DeLarge, cujos hábitos incluem ações violentas, inclusive estupros.
Guto afirmou que as redes sociais têm um
“papel fundamental” em “qualquer”
eleição do mundo desde a candidatura do ex-presidente dos EUA (Estados Unidos) Barack Obama, em 2008. Segundo ele, os norte-americanos criaram um formato, na própria metodologia e tecnologia, muito eficiente que tanto os republicanos quanto os democratas usam.
ELEIÇÕES 2024
Em relação às campanhas políticas nas médias e pequenas cidades, o publicitário disse que a “tendência” nas capitais é que haja uma polarização puxada pelos 2 protagonistas de 2022: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No entanto, à medida que a população diminui nas cidades, as questões práticas do dia-a-dia e administrativas locais se fortalecem enquanto apelo aos eleitores. Ainda assim, a ideologia continua produzindo efeito.
Guto afirmou que as eleições de 2024 fazem parte da reformulação da teia de apoios e cabos eleitorais nacionais visando a eleição de 2026, quando Lula deve tentar a reeleição. “Talvez sejam as eleições municipais mais importantes da história da nova República”, declarou.
Para ele, o PT, que vem de uma redução no número de prefeitos ligados ao partido, tentará se levantar por meio da força das políticas do governo federal, sobretudo os programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida. A direita é vista pelo publicitário como um grupo mais organizado e com comando claro.
A respeito do fundo eleitoral, o grupo de partidos políticos que se identifica como “conservador” ou de “direita” terá mais que duas vezes o valor do Fundo Eleitoral em 2024 na comparação com aqueles que se apresentam como de esquerda. Porém, Guto declarou que só investimento “não ganha eleição”. Segundo ele, é preciso ter estratégia e um bom planejamento.
Com informações do portal Poder360.