A Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania concedeu, nesta quinta-feira (22), anistia política à ex-presidente Dilma Rousseff. A decisão reconhece oficialmente a perseguição e a tortura sofridas por ela durante a ditadura militar no Brasil e inclui um pedido formal de desculpas por parte do Estado brasileiro.
Dilma Rousseff, que foi presa em 1970 aos 22 anos por envolvimento em organizações de resistência à ditadura, permaneceu quase três anos detida. Segundo a Comissão, ela foi submetida a uma série de inquéritos “repetidos e infundados” em diferentes órgãos militares de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais — todos relacionados aos mesmos fatos, com o objetivo de prolongar sua prisão.
Durante a sessão, foram lidos diversos trechos de depoimentos prestados por Dilma ao longo dos anos, nos quais ela relata as violências sofridas durante os interrogatórios. Os relatos incluem tortura com choques elétricos, pau de arara, palmatória, afogamento, nudez forçada e privação de alimentos — práticas que resultaram em hemorragias, perda de dentes e danos físicos e psicológicos duradouros. À Comissão Nacional da Verdade, a ex-presidente declarou que “a tortura deixa cicatrizes que não são apenas físicas”.
“Quando se tem 20 anos o efeito é mais profundo. No entanto, é mais fácil aguentar no imediato. Fiquei presa há três anos, o estresse é feroz, inimaginável. Descobri pela primeira vez que estava sozinha, encarei a morte e a solidão. Lembro-me do medo quando minha pele tremeu. Tem um lado que marca a gente o resto da vida, as marcas da tortura fazem parte de mim”, disse.
Além da anistia, Dilma terá direito a uma reparação econômica de R$ 100 mil. O valor corresponde à demissão que sofreu da Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Rio Grande do Sul, em 1977, em um ato também reconhecido como resultado da perseguição política.