Rio Branco, AC, 17 de maio de 2025 12:14

Por trás das cortinas

Com Íam Arábar

Por trás
das cortinas

Com Íam Arábar

Por trás das cortinas, Rio Branco está cada vez mais endividada, e sem grandes avanços que justifiquem tantos empréstimos

A cada nova canetada autorizada pelos vereadores da capital acreana, o buraco das finanças públicas vai ficando mais fundo. Agora, com a aprovação de mais um empréstimo solicitado pela Prefeitura Municipal de Rio Branco (PMRB) entramos em maio com uma dívida, no mínimo, R$ 67 milhões maior do que no início do ano. Isso, claro, sem contar os juros, correções monetárias e encargos que vêm como sombra inevitável em qualquer contrato de financiamento público.

O motivo do novo empréstimo? A contratação de uma nova frota de ônibus. Mas essa narrativa, que em tese soa como uma tentativa de solução, se choca com a realidade amarga vivida diariamente pelo usuário do transporte coletivo da cidade. Desde que assumiu o mandato, o prefeito Sebastião Bocalom fez questão de repetir que abriria a “caixa-preta” do sistema de transporte público da capital. Uma promessa que, como tantas outras, virou pó ao vento. A tal caixa-preta nunca foi aberta — ou, se foi, ele não achou conveniente contar o que viu.

Pior: enquanto escondia a chave da transparência, entregou o serviço de transporte nas mãos da Ricco Transportes, empresa que, desde o primeiro dia de operação, tem colecionado queixas e revolta popular. Ônibus quebrados, enfumaçados, tortos, sujos e, em muitos casos, sequer cumprindo horários. Uma frota que mais parece peça de um ferro-velho do que transporte digno para trabalhadores, estudantes e mães com crianças no colo. A gestão repete, em propaganda, que trata o povo com dignidade. Mas, nas ruas, a experiência do cidadão é de completo desrespeito.

E agora, diante do caos consolidado, a solução encontrada é tomar mais dinheiro emprestado. É a velha fórmula do improviso travestido de progresso: empurra-se a conta para o futuro, sem dar respostas claras sobre o presente. A prefeitura fala em renovar a frota. Mas com que garantias? A população pagará a conta — disso ninguém duvida. Mas pagará por qual serviço?

Não é só uma questão de finanças. É uma questão de respeito. A cidade assiste, dia após dia, seus representantes legitimarem dívidas milionárias sem o devido debate público, sem transparência nos contratos, sem exigir contrapartidas reais e muito menos fiscalização sobre o que está sendo entregue. As palavras são bonitas nos microfones, mas feias quando transformadas em realidade.

A pergunta que fica, ecoando cada vez mais alto pelas paradas de ônibus superlotadas, pelas filas intermináveis e pelos rostos cansados dos que esperam o coletivo que nunca chega, é uma só: até quando o povo de Rio Branco vai tolerar ser tratado como idiota?

Porque paciência tem limite. E a dívida, essa, só cresce.